Um cruzamento de faixas de pedestre, com duas pessoas em cima da faixa horizontal.

Mudanças editoriais?

Muito prometo e pouco cumpro nesta plataforma. Dito isso, não garanto nada para os próximos capítulos.

Johnny Taira
6 min readApr 2, 2022

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Olá, quanto tempo, não?

Eu acho engraçado que transição, retorno e recomeço são temas recorrentes nos meus últimos textos pessoais do Medium. Inclusive, escrevi um texto com o título Recomeços e quase fiz a mesma coisa para este que agora digito.

Vira-e-mexe entro aqui e a sensação é a de voltar para sua casa depois de uma viagem longa. Os móveis continuam ali, meio empoeirados. A organização dos objetos segue uma lógica muito peculiar, que remonta a tempos passados. Naquela época, isso fazia sentido. Hoje, me pergunto o porquê de ter tomado a decisão de alocar o porta-retratos justamente naquela parede. Os textos são como esses objetos. É divertido acompanhar esse processo, de tentar entender o próprio passado com as vivências do presente e as preocupações do futuro.

As últimas passagens por aqui foram pequenas pausas dessa viagem. Volto com uma sacola de pequenas compras do mercado, faço um lanche, como observando o nada, tiro uma soneca no sofá, limpo a casa — a rinite mostra suas garras — e saio, pensando em retornar assim que possível. “Dessa vez, eu retomo minha rotina de escrita”, pensa o arroba johnnytaira. Lá se vão outros meses sem fazer menção a voltar ao Medium regularmente.

Até tentei voltar a escrever em outras plataformas. Já criei uma newsletter. Mas o assunto flopou antes mesmo de eu tentar um pouco mais.

Os tempos são outros, sejamos honestos. Não sei se vocês sabem, mas eu comecei a escrever com frequência em 2016, quando minha mãe torceu o tornozelo e eu a levava todo dia para a sessão de fisioterapia. Para não pagar estacionamento (e comer algo no café da manhã), sempre passava na padaria ali do lado e pedia algo, enquanto a aguardava e dava carona até o trabalho dela, antes de ir ao meu. Entre um pão na chapa e um gole de café, eu comecei a criar o hábito da escrita. Eu tinha esse desejo de mudar de carreira. Estava frustrado com minha vida de desenvolvedor de software, sabia que gostava de escrever e queria transicionar para qualquer carreira em que pudesse ter mais oportunidades de fazer o que gosto. O clássico desejo millenial em ter a carreira dos sonhos.

Foram bons tempos que não voltam mais. Tive um certo público no Medium, super modesto, mas já conseguia extrapolar as fronteiras do meu círculo de amizades. Não era mais só os meus amigos que tentavam dispor tempo de ler aquilo que eu escrevo e me elogiarem pelo bom trabalho. O fato de ser ouvido (melhor, lido) por outras pessoas me fez ter bastante orgulho dos meus trabalhos nesta plataforma. Foi uma ótima válvula de escape, enquanto muita coisa acontecia ao mesmo tempo na minha vida.

Já se passaram quase seis anos desde esse início. Este site mudou bastante, frente ao que era lá atrás. O mundo mudou, as pessoas que aqui lêem também, obviamente me incluo nisso. Mas os motivos pelos quais eu escrevo continuam muito parecidos, mesmo depois de dar tantas voltas em torno do Sol.

Falando em Sol, hoje eu escutei Solar Power. Admito, a música até que envelheceu de uma forma interessante, mesmo que as pessoas ignorem a existência do álbum e clamam pela volta do Melodrama. Eu as entendo, para ser sincero. Mas o single é tão cabível dentro de uma rádio Eldorado, ou de um Alpha FM da vida, que me parece que a razão de existência dele foi encontrada, algum tempo depois.

Há coisas que envelhecem como vinho, outras como leite, eu não gosto de ler o que eu escrevi no passado porque a primeira sensação é gritar CRINGE e odiar aquela minha versão, mas só existo hoje, no formato e conteúdo atual, pelo meu eu pretérito. Portanto, nem entro na seara de tentar avaliar ou apagar o que já fiz. Deixo ali, acumulando como retratos e memórias.

Gosto muito de estruturas circulares. Talvez por gostar também do tema “ciclo da vida”, no sentido da vida ser efêmera, mas ao mesmo tempo seguir um certo padrão cíclico. Cada capítulo inicia, tem seu ápice e termina, até iniciar outro, assim sucessivamente. E o mood deste texto não poderia ser diferente. Há uma razão para escrever e, mais uma vez, é a necessidade em me expressar e externalizar, enquanto a vida segue com seus ciclos e me traz novos desafios e anseios. Também é a carreira profissional que catalisa essa vontade de retomar com a escrita. O meu eu de seis anos atrás não é o mesmo de agora, mas cá estou num outro momento de transição.

Desde 2016, minha trajetória profissional foi bastante diversa e passei por diversas situações diferentes. Mudei de cargo algumas vezes, meus objetivos seguiram a mesma trajetória mutável e os empregos também. Tudo mudou, pois tudo muda. Não sou especial por isso. Só que, com uns oito anos de carreira, eu percebo que cheguei num ponto de inflexão*. Fazendo uma analogia, é como se minhas camisetas estivessem muito apertadas, mas se eu for na loja comprar o próximo tamanho, a nova vestimenta ficará um pouco grande em mim. Já faz um bom tempo em que eu saí da fase de crescimento e eu também já lido bem com a frustração de não ser mais alto do que sou, mas cresci em outros aspectos.

Os meus objetivos de carreira são completamente outros e percebo que cada vez mais possuo uma série de habilidades os quais jamais pensei que fosse capaz de adquirir ao longo dos anos. Se antes era difícil me imaginar tomando frente das coisas e exercendo papéis mais próximos de liderança, hoje isso me parece mais natural. É como se o meu perfil de irmão mais velho ultrapassasse as fronteiras do âmbito pessoal.

Treinando minha capacidade de síntese, lhes resumo: estou justamente no ponto de bifurcação da carreira em Y.

Quero escrever sobre isso com mais frequência. É capaz que eu leia mais sobre o tema da liderança, senioridade etc. Mas não, jamais serei plataforma de discurso meritocrático e papo merda de coach. A conversa sempre será sincera, com muitas reflexões pessoais, sem perder aquilo que me é essencial: não me submeter a papinho motivacional de engravatado nível Pleno que se acha CEO da Faria Lima. Das idealizações minhas — típicas de um pisciano — uma delas é que a vida profissional jamais deve ultrapassar a vida pessoal. Eu quero ajudar pessoas em começo de carreira a não precisarem se submeter tanto a uma lógica exploratória do mercado de trabalho. Cheguei num momento em que eu também quero ensinar um pouco das minhas vivências pessoais, porque isso não deixa de ser uma ótima forma de aprender. E sim, eu sei: a mudança também é sistêmica e a própria lógica capitalista causa a nossa exploração enquanto aliviamos o estresse e a dor consumindo, consumindo e consumindo.

O meu eu do passado torcerá o nariz por essa “mudança editorial” daqui. Mas tanto em 2016 como agora o fio condutor de tudo foram questões envolvendo a vida profissional. A diferença é que, se eu continuar a escrever, talvez a minha carreira seja um tema mais recorrente.

Nada impede, no entanto, que meus textos com reflexões profissionais tenham como tópico algumas coisas da minha vida pessoal. Eu sei separar muito bem as duas vidas, mas é inevitável: ambas construções coexistem e se completam. Só deixo de escrever sobre relacionamentos. Hoje eu amo uma pessoa incondicionalmente, portanto apenas o amor basta. Vocês não precisam saber de mais nada.

Enfim, é isso. Nos vemos no próximo texto, seja lá qual for o conteúdo.

*Que merda, sem intenção eu acabei citando um livro daquele cara do Geração de Valor. Prometo, pessoa leitora, que essa será a última vez que escrevo o termo ou qualquer menção a esse sujeito. Abraços.

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Johnny Taira

Estudante de Jornalismo. Desenvolvedor. De vez em quando escreve no Medium. Contato: taira.jyundi@gmail.com